O EU FORA DE MIM
O eu fora de mim é a parte
mais sábia do meu ser. São os momentos em que me sinto íntimo de Deus, onde
restauro minhas forças e me reestabeleço das mazelas das lutas diárias. O eu
fora de mim gosta de música suave, piano e violão, qualquer coisa bem longe dos
acordes do funk. Aliás, funk tem acordes? Essa parte de mim é que me faz
perceber a beleza de uma árvore ou de uma flor no meio da cinzenta paisagem
urbana. É uma leitura que mexe com meu coração. O voo de um passarinho. Um lindo pôr do sol. Sim, é o eu
fora de mim quem me socorre quando pensamentos negativos e angustiantes invadem
minha mente e ele é o primeiro a dizer: “Calma!”. Esse eu tem espírito elevado
e sempre recorro a ele quando dores e traumas do passado tentam ganhar espaço,
medos reaparecem e tentam sabotar a paz que normalmente sinto. Eu digo
normalmente sinto, por que como é possível caminhar em paz se depois de dar um
feliz bom dia ao porteiro, a poucos metros adiante encontro uma família de
mendigos implorando esmola? Como se sentir de espírito elevado vendo que a
violência se tornou algo tão banal? Novamente apelo ao eu fora de mim. É o meu
refúgio, a minha luz, o meu lado espiritual, que me faz crer que, apesar dos
pesares, ainda podemos construir um mundo melhor. É acreditar que, apesar dos
políticos corruptos, a grande maioria dos brasileiros é honesta. É ter fé de
que, apesar da crise, posso conseguir o emprego dos meus sonhos. O eu fora de
mim também me faz ser mais paciente com as pessoas à minha volta, lembrando-me
que todos têm seus defeitos e suas qualidades. E me fez, principalmente,
entender que os familiares, amigos e até animais que já se foram, já cumpriram
a missão deles. Resta-me então, cumprir a minha parte, o que me cabe, vivendo
com dignidade, amor e alegria. Sempre que estou triste, o eu fora de mim me faz
ver que tenho motivos de sobra para ser grato por tudo que sou, tudo que tenho
e tudo que vivi até hoje. Sendo grato, eu encontro forças para ser feliz
novamente, encontrando a paz em meio ao caos. E é, acima de tudo, essa gratidão
que levo comigo agora. Obrigado, Senhor. Viver é mesmo um presente divino.
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