domingo, 13 de novembro de 2016

O NOVELO E A NOVELA

A política brasileira sempre foi um grande emaranhado de falcatruas e golpes contra a nossa população. Esse novelo de barbaridades parece não ter fim. É uma verdadeira novela. A ação se passa em Brasília, é claro. As locações principais são o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o Palácio da Justiça e os Ministérios. Como em toda boa trama, o embate bem X mal promove a emoção de cada capítulo. Ué, mas você deve estar se perguntando agora: só tem bandido nessa história? Sei que é difícil de explicar, mas arrumar um personagem com perfil de mocinho, que possa convencer o público da sinceridade de suas boas ações, é uma tarefa árdua. Primeiro tentaram o Joaquim Barbosa, que fez sucesso durante algum tempo, mas hoje já não tem mais a mesma imagem de antes e foi relegado a um segundo plano. Aí começou a aparecer com imenso destaque o juiz Sérgio Moro, que tem pinta de galã, além de uma atuação bem convincente. Em pouco tempo, virou herói nacional. Instalou a Operação Lava-Jato, até agora a mais bem sucedida iniciativa para punir os bandidos e que tem garantido os momentos mais eletrizantes da nossa história. O capítulo em que o arquivilão Eduardo Cunha foi preso bateu recordes de audiência. Ninguém acreditava muito neste desfecho, porque o malfeitor, que conseguiu a proeza de ser odiado pelo país inteiro, superando até mesmo a inesquecível Odete Roitman, sempre arrumava uma maneira de escapar das punições previstas na lei. Como é comum nas tramas atuais, a nossa novela também tem ações no passado, onde nomes como José Sarney, Lula, Jair Bolsonaro e Renan Calheiros, já atuavam com destaque na trilha do mal, e até hoje ainda continuam agindo nos bastidores. Essa novela tem uma coisa interessante: o castigo para os bandidos é sempre o mesmo – ir para a cadeia. Ninguém tem uma morte terrível, sofre um acidente ou fica com uma doença terminal. Não. O máximo que pode acontecer é ter os seus bens confiscados e ficar com uma péssima imagem em todo o país. Alguns ainda, ficam impedidos de se reeleger. O que convenhamos, é muito pouco para o grande mal que fizeram a todos nós, brasileiros. Mas, como em toda obra de sucesso, há os que são do contra e falam mal do enredo e dos principais personagens da nossa história. Dizem que tudo não passa de uma manipulação para fazer o povo ficar contra os bandidos, principalmente, contra o ex-presidente Lula. Vamos aguardar os próximos capítulos. E torcer, para que como em toda boa novela, a nossa também tenha um final feliz.
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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PATÉTICO SUCESSO

Eu jamais trocaria um dia a dia feliz na agência por um Leão em Cannes. E aí me perguntam: mas você já ganhou um Leão? Não, não ganhei. Mas eu sei que não há prêmio maior do que fazer o que se gosta, estando ao lado de quem se gosta. O que está acontecendo no mercado publicitário é que prêmio há muito virou objetivo, e não consequência de um trabalho bem feito. Acho simplesmente patéticas as elaboradas estratégias de marketing pessoal para que determinado profissional ganhe um prêmio cobiçado. Estamos passando dos limites. Há filmes, anúncios, outdoors, material promocional, marketing de guerrilha, planos de mídia e tudo mais como se o candidato fosse um produto, ou um político às vésperas de eleições. Vote em Fulano para Tal Prêmio. E o trabalho, que deveria aparecer por si só, acaba ficando em segundo plano. Ou seja: como na política, quem faz a campanha mais eficiente, e, para isso, pode contar com verba, mais a ajuda de profissionais criativos e capacitados, consegue vender a melhor imagem e acaba levando o troféu. Tudo isso pra quê? Pra mostrar ao mercado que Fulano é um profissional de imenso sucesso, um talento sem medidas, e aumentar ainda mais o ego de quem, talvez caso não tivesse a imensa máquina eleitoreira por trás, não ganhasse o prêmio. Assim como na política, nem sempre vence o melhor candidato. A verdade é que, para mim, nada disso tem a ver com sucesso. Sucesso é algo que vem de dentro pra fora. É uma conquista íntima, pessoal. Tem a ver com mostrar pra si mesmo e não para os outros. É aquela ideia genial que aparece depois de horas de transpiração. É fazer o que se gosta. Ter um ambiente de trabalho gratificante, estando ao lado de amigos e não de adversários. Ganhar um bom salário, o suficiente para se ter uma vida confortável, alegre, despreocupada. Ir e voltar do trabalho feliz. Rir de segunda a sexta. É comemorar vitórias, na certeza de que são todas merecidas. É aquela sensação incrível de estar em paz com a vida, com todos os planos profissionais e pessoais dando certo. É claro, que se vier um prêmio, será bem-vindo. Mas que seja consequência de um trabalho onde houve empenho, dedicação, prazer, envolvimento, competência, criatividade, no qual você se jogou por inteiro para que o resultado fosse o melhor possível e aí está a sua recompensa. Não foi preciso convencer ninguém do seu talento. Não foi preciso nenhuma grande estratégia de marketing pessoal para notarem que você é bom. Isso sim é sentir o gostinho do sucesso. O resto são egos inflamados doidos pra aparecer. Acho que um pouquinho de humildade faria bem para muitos publicitários. Porque, no final das contas, é bem mais feliz quem não fica tão ansioso como um louco atrás desse falso sucesso. O segredo é um só: cuidar mais do espírito e deixar a vaidade de lado. Acredite. Sua vida será muito melhor assim, com ou sem prêmios.
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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

EU, ELA E A GELADEIRA

Essa é a história do triângulo amoroso mais inusitado que você pode imaginar: eu, ela e a geladeira. Tudo começou há alguns anos atrás quando eu namorava a Márcia. Como o relacionamento não ia muito bem, eu resolvi terminar, mas a Márcia não se conformou porque era perdidamente apaixonada por mim. Ela era muito amiga da Tati, praticamente irmãs e moravam próximo uma da outra. Eram tão amigas que a Márcia deixou uma geladeira que ela tinha na casa da Tati, que estava precisando para completar a cozinha.
O que aconteceu é que quando terminei o namoro com a Márcia, a Tati disse que eu poderia continuar aparecendo na casa dela porque éramos amigos. E assim foi, até que 3 meses depois, essa amizade virou namoro. Isso mesmo. Eu comecei a namorar a Tati 3 meses depois de ter terminado com a Márcia.
Só que a Márcia, super ciumenta, quando soube que eu estava namorando a melhor amiga dela ficou enfurecida. Pensou que tivesse sido traída e disse que eu a tinha enganado durante os dois anos em que namoramos. E, pra completar, exigia a geladeira de volta.
- Ou você termina com o Luiz ou devolve a geladeira! Com os dois você não fica! - gritou ela para a Tati.
O pior é que a Tati ficou na dúvida:
- Luiz, eu gosto muito de você. Você é muito legal e funciona direitinho (ela era bem irônica), mas eu não posso ficar sem a geladeira. Eu não tenho dinheiro para comprar outra. Imagina, aonde eu vou guardar a carne, o leite? Agora, sem namorado, eu posso ficar. Tem tanta gente por aí sem ninguém... Ai, meu Deus, o Luiz ou a geladeira?
Eu simplesmente não acreditei no que estava ouvindo. Ser trocado por outro dói, mas você ainda admite. Agora, ser trocado por uma geladeira, é um golpe duríssimo na autoestima de qualquer homem.
Como a Tati ficou indecisa, a Márcia apareceu lá com dois grandalhões e de fato levou a geladeira.
Pra melhorar a minha situação com a Tati, e conservar o meu namoro, eu fiz um crediário e comprei uma geladeira nova.
Me dei mal: o namoro com a Tati durou só mais alguns meses. Terminamos.
E as duas nunca mais se falaram.
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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

ARTISTAS, ESSES INCOMPREENDIDOS

Falar de arte sempre gera polêmica. Todo mundo concorda que ela é o que nos faz viver, sonhar, refletir e se maravilhar diante de tanta beleza que pode estar nos versos de uma poesia, numa cena de teatro, nas cores de uma tela, nas notas de uma canção ou nas formas de uma escultura. Tudo é belo, tudo encanta, e nós, que somos o público, ficamos fascinados com o talento e sensibilidade de cada artista. Mas, o que é arte? Pergunta difícil de responder. Há meses atrás, fui numa exposição na Casa França Brasil e havia várias instalações, feitas com tijolos, ferro e canos de PVC, que faziam parte da mostra. Mas, o prédio estava em obras e teve muita gente admirando sacos de cimento, areia, peneira e barras de ferro como se também fizessem parte da exposição e fossem uma obra de arte. Achei engraçado aquilo. A gente realmente já não sabe mais o que é arte e o que não é. Havia uma novela, onde as telas de sucesso de um pintor, eram na verdade feitas por um macaco, numa grande ironia ao mercado de artes plásticas. Pra ser sincero, eu nunca entendi o preço exorbitante de algumas telas. Não entendo de arte, mas entendo de gente. E sei que uma tela da Sotheby’s dá para alimentar centenas de famílias. Acho um absurdo um quadro custar milhões e milhões de dólares, por mais lindo e maravilhoso que seja, enquanto há seres humanos morrendo de fome. Com esse dinheiro, daria para construir dezenas de escolas e hospitais, enquanto a tela linda, sublime e perfeita (e em muitos casos, não são tão atraentes assim), não passa de um objeto decorativo. É a distorção de valores do mundo contemporâneo. Quantas vezes, você já não foi a uma exposição e saiu com a sensação que aquela obra de arte você faria facilmente em casa? Voltamos à pergunta: o que é arte? Uma outra história interessante que aconteceu comigo, mostra que nós, público, temos uma noção totalmente equivocada das manifestações artísticas. Eu estava no MAM e havia uma exposição de quadros e esculturas sobre plantas e aves dentro do prédio. Do lado de fora, a mostra continuava com algumas esculturas espalhadas sobre o jardim. Foi aí que uma imagem de uma garça me chamou a atenção. Falei pra minha amiga: esses artistas são uns loucos mesmos. Pra que fazer uma escultura como essa, com o pescoço tão destorcido, desproporcional, em vez de retratar a realidade, fazendo a ave como realmente ela é? Foi nesse exato momento que a garça, que era de verdade, virou pra mim, me fitou e saiu voando, como se debochasse do meu infeliz comentário. Tive que rir. Acho que no fundo, no fundo, todo mundo é um artista. Cada um é capaz de criar algo de belo, que talvez só tenha significado pra você, talvez encante multidões. A arte pode ser criticada, incompreendida, bela, provocadora, contestadora, sensível, fascinante, sedutora, decepcionante, não importa. Ela sempre será essencial para libertar o inconsciente das pessoas e tornar a nossa vida racional mais cheia de encanto e satisfação. Porque, como já disse o poeta, a arte da vida é fazer da vida uma arte.
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