Falar de arte sempre gera polêmica. Todo mundo
concorda que ela é o que nos faz viver, sonhar, refletir e se maravilhar diante
de tanta beleza que pode estar nos versos de uma poesia, numa cena de teatro,
nas cores de uma tela, nas notas de uma canção ou nas formas de uma escultura.
Tudo é belo, tudo encanta, e nós, que somos o público, ficamos fascinados com o
talento e sensibilidade de cada artista. Mas, o que é arte? Pergunta difícil de
responder. Há meses atrás, fui numa exposição na Casa França Brasil e havia
várias instalações, feitas com tijolos, ferro e canos de PVC, que faziam parte
da mostra. Mas, o prédio estava em obras e teve muita gente admirando sacos de
cimento, areia, peneira e barras de ferro como se também fizessem parte da
exposição e fossem uma obra de arte. Achei engraçado aquilo. A gente realmente
já não sabe mais o que é arte e o que não é. Havia uma novela, onde as telas de
sucesso de um pintor, eram na verdade feitas por um macaco, numa grande ironia
ao mercado de artes plásticas. Pra ser sincero, eu nunca entendi o preço
exorbitante de algumas telas. Não entendo de arte, mas entendo de gente. E sei
que uma tela da Sotheby’s dá para alimentar centenas de famílias. Acho um
absurdo um quadro custar milhões e milhões de dólares, por mais lindo e
maravilhoso que seja, enquanto há seres humanos morrendo de fome. Com esse
dinheiro, daria para construir dezenas de escolas e hospitais, enquanto a tela
linda, sublime e perfeita (e em muitos casos, não são tão atraentes assim), não
passa de um objeto decorativo. É a distorção de valores do mundo contemporâneo.
Quantas vezes, você já não foi a uma exposição e saiu com a sensação que aquela
obra de arte você faria facilmente em casa? Voltamos à pergunta: o que é arte?
Uma outra história interessante que aconteceu comigo, mostra que nós, público,
temos uma noção totalmente equivocada das manifestações artísticas. Eu estava
no MAM e havia uma exposição de quadros e esculturas sobre plantas e aves
dentro do prédio. Do lado de fora, a mostra continuava com algumas esculturas
espalhadas sobre o jardim. Foi aí que uma imagem de uma garça me chamou a
atenção. Falei pra minha amiga: esses artistas são uns loucos mesmos. Pra que
fazer uma escultura como essa, com o pescoço tão destorcido, desproporcional,
em vez de retratar a realidade, fazendo a ave como realmente ela é? Foi nesse
exato momento que a garça, que era de verdade, virou pra mim, me fitou e saiu
voando, como se debochasse do meu infeliz comentário. Tive que rir. Acho que no
fundo, no fundo, todo mundo é um artista. Cada um é capaz de criar algo de
belo, que talvez só tenha significado pra você, talvez encante multidões. A
arte pode ser criticada, incompreendida, bela, provocadora, contestadora,
sensível, fascinante, sedutora, decepcionante, não importa. Ela sempre será
essencial para libertar o inconsciente das pessoas e tornar a nossa vida
racional mais cheia de encanto e satisfação. Porque, como já disse o poeta, a
arte da vida é fazer da vida uma arte.
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
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