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Eu jamais trocaria um dia a dia feliz na agência por um Leão em
Cannes. E aí me perguntam: mas você já ganhou um Leão? Não, não ganhei. Mas eu
sei que não há prêmio maior do que fazer o que se gosta, estando ao lado de
quem se gosta. O que está acontecendo no mercado publicitário é que prêmio há
muito virou objetivo, e não consequência de um trabalho bem feito. Acho
simplesmente patéticas as elaboradas estratégias de marketing pessoal para que
determinado profissional
ganhe um prêmio cobiçado. Estamos passando dos limites. Há filmes, anúncios,
outdoors, material promocional, marketing de guerrilha, planos de mídia e tudo
mais como se o candidato fosse um produto, ou um político às vésperas de
eleições. Vote em Fulano para Tal Prêmio. E o trabalho, que deveria aparecer
por si só, acaba ficando em segundo plano. Ou seja: como na política, quem faz
a campanha mais eficiente, e, para isso, pode contar com verba, mais a ajuda de
profissionais criativos e capacitados, consegue vender a melhor imagem e acaba
levando o troféu. Tudo isso pra quê? Pra mostrar ao mercado que Fulano é um
profissional de imenso sucesso, um talento sem medidas, e aumentar ainda mais o
ego de quem, talvez caso não tivesse a imensa máquina eleitoreira por trás, não
ganhasse o prêmio. Assim como na política, nem sempre vence o melhor candidato.
A verdade é que, para mim, nada disso tem a ver com sucesso. Sucesso é algo que
vem de dentro pra fora. É uma conquista íntima, pessoal. Tem a ver com mostrar
pra si mesmo e não para os outros. É aquela ideia genial que aparece depois de
horas de transpiração. É fazer o que se gosta. Ter um ambiente de trabalho
gratificante, estando ao lado de amigos e não de adversários. Ganhar um bom
salário, o suficiente para se ter uma vida confortável, alegre, despreocupada.
Ir e voltar do trabalho feliz. Rir de segunda a sexta. É comemorar vitórias, na
certeza de que são todas merecidas. É aquela sensação incrível de estar em paz
com a vida, com todos os planos profissionais e pessoais dando certo. É claro,
que se vier um prêmio, será bem-vindo. Mas que seja consequência de um trabalho
onde houve empenho, dedicação, prazer, envolvimento, competência, criatividade,
no qual você se jogou por inteiro para que o resultado fosse o melhor possível
e aí está a sua recompensa. Não foi preciso convencer ninguém do seu talento.
Não foi preciso nenhuma grande estratégia de marketing pessoal para notarem que
você é bom. Isso sim é sentir o gostinho do sucesso. O resto são egos
inflamados doidos pra aparecer. Acho que um pouquinho de humildade faria bem
para muitos publicitários. Porque, no final das contas, é bem mais feliz quem
não fica tão ansioso como um louco atrás desse falso sucesso. O segredo é um
só: cuidar mais do espírito e deixar a vaidade de lado. Acredite. Sua vida será
muito melhor assim, com ou sem prêmios.
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