quinta-feira, 10 de novembro de 2016

PATÉTICO SUCESSO

Eu jamais trocaria um dia a dia feliz na agência por um Leão em Cannes. E aí me perguntam: mas você já ganhou um Leão? Não, não ganhei. Mas eu sei que não há prêmio maior do que fazer o que se gosta, estando ao lado de quem se gosta. O que está acontecendo no mercado publicitário é que prêmio há muito virou objetivo, e não consequência de um trabalho bem feito. Acho simplesmente patéticas as elaboradas estratégias de marketing pessoal para que determinado profissional ganhe um prêmio cobiçado. Estamos passando dos limites. Há filmes, anúncios, outdoors, material promocional, marketing de guerrilha, planos de mídia e tudo mais como se o candidato fosse um produto, ou um político às vésperas de eleições. Vote em Fulano para Tal Prêmio. E o trabalho, que deveria aparecer por si só, acaba ficando em segundo plano. Ou seja: como na política, quem faz a campanha mais eficiente, e, para isso, pode contar com verba, mais a ajuda de profissionais criativos e capacitados, consegue vender a melhor imagem e acaba levando o troféu. Tudo isso pra quê? Pra mostrar ao mercado que Fulano é um profissional de imenso sucesso, um talento sem medidas, e aumentar ainda mais o ego de quem, talvez caso não tivesse a imensa máquina eleitoreira por trás, não ganhasse o prêmio. Assim como na política, nem sempre vence o melhor candidato. A verdade é que, para mim, nada disso tem a ver com sucesso. Sucesso é algo que vem de dentro pra fora. É uma conquista íntima, pessoal. Tem a ver com mostrar pra si mesmo e não para os outros. É aquela ideia genial que aparece depois de horas de transpiração. É fazer o que se gosta. Ter um ambiente de trabalho gratificante, estando ao lado de amigos e não de adversários. Ganhar um bom salário, o suficiente para se ter uma vida confortável, alegre, despreocupada. Ir e voltar do trabalho feliz. Rir de segunda a sexta. É comemorar vitórias, na certeza de que são todas merecidas. É aquela sensação incrível de estar em paz com a vida, com todos os planos profissionais e pessoais dando certo. É claro, que se vier um prêmio, será bem-vindo. Mas que seja consequência de um trabalho onde houve empenho, dedicação, prazer, envolvimento, competência, criatividade, no qual você se jogou por inteiro para que o resultado fosse o melhor possível e aí está a sua recompensa. Não foi preciso convencer ninguém do seu talento. Não foi preciso nenhuma grande estratégia de marketing pessoal para notarem que você é bom. Isso sim é sentir o gostinho do sucesso. O resto são egos inflamados doidos pra aparecer. Acho que um pouquinho de humildade faria bem para muitos publicitários. Porque, no final das contas, é bem mais feliz quem não fica tão ansioso como um louco atrás desse falso sucesso. O segredo é um só: cuidar mais do espírito e deixar a vaidade de lado. Acredite. Sua vida será muito melhor assim, com ou sem prêmios.

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