domingo, 27 de setembro de 2020

O SEGREDO

  


 Uma das coisas pelas quais era mais grata nessa vida era o seu relacionamento com o André. Sempre foi uma delícia estarem juntos. Tanto carinho, tanta alegria, momentos inesquecíveis a dois. A cumplicidade era tanta que podiam ler os pensamentos um do outro, só com um olhar. Amor pra vida inteira, sempre teve a certeza disso. André era seu melhor amigo, confidente, companheiro e um amante maravilhoso, que sabia ser romântico, terno, e ao mesmo tempo, insaciável e cheio de desejo. Essa combinação irresistível a deixava completamente entregue e inteira em suas mãos.

     Mas, de umas semanas para cá, sentia que algo diferente estava acontecendo. Não que houvessem tido uma discussão ou o clima estivesse ruim entre eles, apenas algo lhe dizia que ele ou ela não eram mais os mesmos. Dizia pra si mesma, que isso era uma bobagem, mas uma vozinha lá no fundo, a poderosa intuição feminina, insistia que ele já não contava tudo pra ela, vivia mais para o trabalho e os amigos, falava com menos detalhes como tinha sido o dia, sempre que se ligavam ou até mesmo quando se encontravam pessoalmente.

     Estavam namorando há três anos. Ele era um executivo bem-sucedido e ela, gerente de loja. Ultimamente, ele sempre dizia que tinha que ficar fazendo hora-extra no trabalho e costumava chegar tarde em casa, por volta das 11 ou meia-noite. No início, achou que essa era só uma fase, devido a um novo projeto na empresa, mas, aos poucos, a verdade é que estava ficando cada vez mais cismada com essa história de todo dia ele ter que trabalhar tanto.

     E se o André estivesse mentindo? Se tivesse uma amante, alguma garota mais jovem do escritório? Este tipo ameaçador de pensamento era cada vez mais frequente em sua cabeça. Não queria mais pensar dessa maneira, mas passou a viver sempre tensa, angustiada com essa possibilidade. Estava dividida: uma parte dela se lembrava dos lindos momentos a dois e outra lhe atormentava com imagens dele beijando e acariciando outra, se enchendo de prazer num quarto de motel. Sempre que ligava, era para o celular dele... E o seu amado poderia estar muito bem em qualquer lugar do mundo e não na empresa. 

     Uma noite, ansiosa e torturada pela dúvida, resolveu ligar para o telefone da empresa. Não queria fazer isso, mas precisava ter certeza absoluta de que ele estava lá trabalhando. Ligou. O telefone chamou, chamou, chamou e ninguém atendeu. Ligou para o celular dele: caiu na mensagem de voz. Desesperada, trêmula, e louca de raiva, agora tinha a certeza de que ele a estava traindo.

     Fora de si, resolveu ver a traição com seus próprios olhos. Inventou uma desculpa na loja e faltou ao serviço naquele dia. Ficou de plantão na porta da empresa de André, esperando a hora dele sair. Ele finalmente deixou o prédio, se despediu dos colegas de trabalho e pegou o carro. Ela o seguiu. Ele foi para um restaurante. Quem o estava esperando? Valéria, sua melhor amiga! 

     Não podia acreditar que aquilo tudo estava acontecendo. Era muito pior do que podia imaginar: traída pelo seu namorado e sua grande amiga. Naqueles segundos, cenas terríveis do cretino do André e da falsa Valéria fazendo sexo ardente, cheios de prazer e beijos insaciáveis, passaram pela sua cabeça. Imaginou ainda os dois na cama, super felizes, bebendo champanhe e rindo dela, a otária. 

     Chegou perto da mesa e armou o maior barraco. 

     - Cretino, vagabunda! Vocês dois me pagam!, disse ela aos berros.

     - Não é nada disso que você está pensando... Calma! Relaxa... Nós estávamos preparando uma surpresa pra você. Eu vou abrir uma loja pra você ser a dona, e a Valéria, que é arquiteta e decoradora, foi quem fez o projeto. Por isso, temos nos encontrado sempre. 

     Envergonhada, sem ter aonde colocar a cara pelo papelão que estava fazendo, começou a chorar e a rir ao mesmo tempo. Jamais havia sentido um alívio tão grande na vida. Abraçou os dois queridos e jurou pra si mesma nunca mais duvidar da felicidade que tinha. 

 

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