sábado, 21 de novembro de 2020

A PARTIDA

      
Não iria ser fácil esquecer as lembranças.

     Por muito tempo, ela havia sido feliz neste lugar. Helena chegou ainda bem jovem, com seus vinte e dois anos, cheia de planos e sonhos. É onde ela sempre se sentiu em casa, acolhida, amada e querida por todos.

     Foi ali que despertou seu interesse pela fotografia. E, se tornou uma expert no assunto, fazendo cliques incríveis, se deixando envolver por uma paixão que ia muito além de um simples hobbie. E, como boa fotógrafa, retratou com sensibilidade e talento, os momentos alegres que foram incontáveis: os aniversários, as surpresas do Natal, o brinde no Reveillon, a viagem na praia, o ursinho de pelúcia que ganhou no Dia dos Namorados, as brincadeiras com as crianças, os instantes divertidos com Mel, a cachorrinha de estimação.

     Tudo isso agora ficava para trás.

      Foi neste lugar também em que ela conheceu a maravilhosa Dona Carmem, que sempre a teve como filha e lhe ensinou receitas incríveis, delícias que ela levará consigo aonde for. As duas costumavam passar horas e horas na cozinha, conversando e trocando dicas valiosas de quem adora a culinária.

     Ali ela fez novos e grandes amigos: pessoas que chegaram trazendo diversão, carinho, bom humor, cumplicidade e apoio emocional nos dias mais difíceis. Pra falar a verdade, Helena nem sabe se todos esses queridos ainda farão parte de sua vida, que certamente não será mais a mesma.

     As ruas do bairro também iriam lhe fazer falta. A padaria onde sempre pedia um pão na chapa e um cafezinho; o barzinho onde teve os happy hour mais animados da sua vida; a sorveteria e os momentos divertidos com as crianças que sempre a trataram super bem e foram logo a chamando de tia. Até dos vizinhos e dos porteiros iria sentir falta. Sem falar na Celeste, que de cozinheira da família passou a ser uma grande amiga e confidente.

     Mas, o mais difícil, seria esquecer os deliciosos momentos a dois. Tantos instantes íntimos e felizes, tantas horas de amor e prazer, tantas risadas e surpresas maravilhosas que agora ficarão só na lembrança...

     Não é fácil encarar uma separação.  Este lugar no qual Helena viveu tanto tempo era o coração do Rafa. Aos 35 anos, o seu mundo agora era outro. Precisava caminhar sozinha, abrindo mão de tudo de bom que ali havia encontrado: uma mudança e tanto. 

     Estava de partida, sabendo que não teria mais volta. Os momentos, as pessoas, os lugares, o Rafa, já não cabiam mais na sua nova rotina. Agora é esperar o tempo passar, até que o destino lhe traga um novo coração para fazer morada. E, se Deus quiser, poderá assim ser feliz de novo. 

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