sábado, 10 de outubro de 2020

ELA CHEGA E QUER FICAR

A gente se conhece há anos. Pra falar a verdade, desde a infância. Vez por outra, ela aparece. E eu nunca sou mais o mesmo. É chato falar, mas admito que sinto um certo desconforto com a sua presença. Quando chega, vai ficando, sem pedir licença, achando que meu tempo e meu corpo são a sua casa.

      Tento evitar estar com ela, mas não tem jeito: quando menos se espera, ela surge e insiste em estar comigo, me acompanhar aonde for. E, aí, acabamos ficando sempre juntos; em casa ou na rua, é uma companhia inseparável. 

     Sou um cara discreto, um pouco tímido. Mas ela faz tudo pra chamar a atenção e, dependendo da ocasião, me vejo em apuros ou numa situação embaraçosa. Todos ficam me olhando: não gosto disso. 

     Semana passada, estivemos o tempo todo juntos. Fomos ao shopping, almoçamos num restaurante bacana, dei uma rápida passada no trabalho, assistimos alguns bons filmes na TV, visitamos a casa de um amigo e até aparecemos no aniversário da minha tia. Ela sempre comigo.

     Mas o que eu percebo é que minha vida longe dela é muito melhor. Me sinto mais motivado, mais alegre, bem-disposto. Tenho mais liberdade para fazer as coisas que gosto. Uso o meu tempo da maneira que bem entendo. Diante dela, fico desanimado porque a presença dela o tempo todo comigo me incomoda bastante. Chega a ser chato, cansativo. É estranho: às vezes, ficamos meses sem nos encontrar, mas quando ela aparece, ficamos juntos o tempo todo. 

     Sei que o que ela quer mesmo é me levar pra cama. E muitas vezes, me pega de surpresa e, de certa maneira, fragilizado, que é isso mesmo o que acontece. Já passei dias sem sair de casa por causa dela. E as noites? Praticamente não dormia, porque ela estava ali comigo, dona do meu corpo e eu inteiramente entregue a esta situação.

    Às vezes vem e fica um fim de semana, cinco ou seis dias, uma quinzena. Minha família e meus amigos não gostam quando estamos juntos: dizem que ela me põe pra baixo, que é melhor eu me cuidar e acabam me dando mil e uma recomendações. Sei que falam isso para o meu bem, são pessoas queridas que se preocupam comigo e querem o melhor para mim. O que faço? Sigo os conselhos, tomo atitude no sentido de mandá-la embora, até que ela se despede e minha vida volta ao normal. 

     Já cheguei, inclusive, a buscar ajuda profissional para lidar com este problema pois, quando eu penso que me livrei de vez, ela volta e se instala, desestruturando todo o meu dia a dia.

     Você pensa que é fácil conviver com a tosse? Ela quando chega, quer ficar. Daqui pra frente, vou dar mais atenção à minha saúde, pois ninguém merece ter uma companhia tão desagradável assim. Antes só, do que mal acompanhado!   

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