sábado, 7 de novembro de 2020

O TROCO QUE EU ME DOU


    Aprendi que cobrar menos de mim mesmo é uma forma de demonstrar amor por ser quem sou. Sempre procurei fazer o melhor possível para que meus relacionamentos pessoais fossem gratificantes, mas como todo ser humano, errei muitas vezes. E costumava não me perdoar por isso.

     Não me perdoava por ter levantado a voz, não me perdoava por não ter falado palavras de compreensão. Me condenava por ter dito sim, me condenava por ter dito não. Me sentia culpado por ter tido uma atitude mais dura, me sentia culpado por ter tido um coração mole. A verdade é que, diante de um conflito, nem sempre sabemos como agir. E vamos tentando, entre erros e acertos, encontrar a paz no meio de tantos relacionamentos difíceis que estão na nossa vida.

     O troco que me dou tem a ver com cobrar menos de mim. A não esperar que eu seja sempre perfeito, a valorizar os meus limites e sentimentos, a não permitir que problemas alheios invadam a minha vida e me tirem a paz. 

     Cansei de socorrer pessoas que insistem nos mesmos erros. Cansei de ser sempre o bonzinho, o compreensivo, o tolerante, o responsável. Hoje faço o que estiver ao meu alcance para ajudar, mas sei que cada um escolhe o seu caminho. Aprendi que não posso me responsabilizar pelas más escolhas dos outros. Aviso, recomendo, aconselho, mas percebi que estava deixando de viver a minha vida pra carregar o peso de problemas que não criei e com os quais não quero me envolver tanto, a ponto de perder o meu bem mais precioso: a alegria.

     Queria encontrar uma fórmula mágica que mostrasse como ajudar os outros, sem esquecer de mim. Descobrir o ponto de equilíbrio onde eu possa ser feliz, perto de tanta gente mal resolvida, agressiva e ansiosa. Ter a sabedoria de achar a paz no meio do caos. E assim, seguir a minha vida com otimismo e gratidão.  

     Talvez tenha me tornado mais egoísta, pode ser. Mas também sei que sempre haverá colo para um amigo, atenção para quem precisa, consideração por quem eu amo. O amor que trago em mim é grande demais para que eu me torne alguém indiferente aos dramas de quem está por perto. Quero ser luz para os meus familiares e amigos, mas também quero brilhar para mim mesmo. Peço a Deus que me mostre sempre a melhor maneira de agir para que a paz venha para todos. 

     É preciso respeitar o tempo de cada um. Saber o que falar e a hora de falar. Saber o que calar e a hora de calar. Não é tarefa fácil contribuir para a felicidade de quem se ama, sem deixar de dar atenção aos seus próprios desejos e sonhos. 

     Por isso é que eu rezo. Por mim e por cada pessoa querida. Para que nos venham a paz e a sabedoria que nos permitam viver em comunhão. Há momentos em que só mesmo a fé nos socorre. 

     E eu peço para que os anjos nos inspirem num perfeito equilíbrio entre o dar e o receber. Só assim eu não me cobraria tanto e o troco que ficaria comigo seria o suficiente para ser feliz.

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